A vida seria um erro, se não existisse a música(Nietzsche). A vida é um erro, mas a música atenua este erro(O Caveira)

Isso, abaixo, seria a vida após a morte?

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Herança

Pensando bem não é correto dizermos quem somos.  Na verdade somos frutos do meio. Um série de fatores molda nossa personalidade, nosso eu.  Não devemos nos achar um lixo, mas nem pensarmos que somos um luxo. E muitos exibem um orgulho exacerbado, como se fossem deuses ou o centro do universo.

Dentre os fatores que moldam nossa personalidade, nossos pais têm um papel fundamental. Eu, que mudei muito de escola, graças à 'ciganagem'(rs) dos meus pais, afirmo , com toda certeza a complexidade dos comportamentos humanos.  Algumas escolas nada acrescentaram em mim, no tocante a relacionamentos; numas fui feliz, em outras fui mal sucedido. O bairro onde fomos criado pode também ajudar na formação do nosso eu. Quero dizer que, se permanecemos muito num ambiente, no qual permeia maus elementos, a discórdia, coisas assim, isso nos marcará muito. Podemos nos tornar mau elemento também ou não, podemos ter um visão negativa da vida e das pessoas.  Bem complexo tudo. Você, que nasceu em berço de ouro, teria a mesma vida, a mesma personalidade, se nascesse numa favela?
Até mesmo nosso físico, creio ajudar a moldar nossa personalidade.

Contudo, continuo a achar que os maiores responsáveis pelo nosso eu, são nossos pais. Em alguns aspectos parecemos com eles, em outros não, mas a influência que eles exercem sobre nós é enorme. O legado deles é forte. E ainda existe a herança genética.  E se você já nasce com problema corpóreo?
É uma herança incômoda, cruel.  No caso da minha família, de cara, culpo minhas avós. A paterna era uma beata, introvertida, moralista, um bicho do mato, que experimentou pela primeira vez uma coca-cola, quando já era idosa(fui eu que sugeri que ela tomasse o refrigerante)- ela achou horrível tal 'experiência'. Ela também era orgulhosa, apesar de ser bem pobre. Casou-se com um homem bem complicado, seu primo, com características parecidas com as suas. Tiveram 6 filhos, 4 homens e duas mulheres. Os meninos, mal começaram a andar e falar, já tiveram que trabalhar. Mais tarde, cada um deles encontrou suas (infelizes) esposas e ajudaram na perpetuação da espécie, colocando filhos no mundo. As meninas faziam as tarefas domésticas e, claro, se tornaram solteironas. Minha avó foi internada , algumas vezes, em sanatórios. Acabou se acomodando, se aquietou(mais ainda), deixando até mesmo de frequentar as missas aos domingos. Parou de fazer os doces e biscoitos, tão gostosos, como só ela sabia fazer. Só não deixou de ouvir no rádio as suas missas, e continuou firme com seu tricô.  E, evidentemente, a se queixar da vida: "O que está bom? Nada tá bom!".

Minha avó materna era a caçulinha, de uma família de bem, do interior das Minas Gerais. Foi uma espécie de ovelha negra, pois ela gostava de homens bem mais que o normal(rs), e detestava ser fiel. Foi adúltera. Seus dois primeiros filhos foram do marido- o original(rs). Na verdade,  não foram dele, são filhos de pais diferentes... Depois , com outro homem, ela teve a minha saudosa mãe. Mais adiante, outros dois filhos de pais diferentes. Ela era nervosa, sistemática. Tinha um sorriso lindo e um jeito doce, mas era intrigante, rancorosa, extremamente egoísta. Não foi uma boa mãe. Tinha uma fobia tremenda por tempestades. Tampava o ouvido e não fica só, de modo algum, quando escutava trovões.  Só dormia a poder de calmantes.  Pelo menos alguns de seus irmãos, eram bem sistemáticos também, introvertidos, cheios de mania.
Bem, eu acho que minhas queridas avós não deveriam ter filhos... Em consequência, mais que evidente, eu não teria nascido. rs. Vale ressaltar seus antecedentes, os quais nada sei sobre...

Pretendo continuar com o assunto em outros posts.

                                                                     Herança

Mãe, pai, estou me saindo bem, no outro lado do país, bem distante.
Ainda assim, eu sei as coisas que vocês querem ouvir de mim.
Algumas vezes, essas coisas são tão duras!

Mãe, pai, sou seu filho, com uma longa e magra face pontuda e esta
cintura alta e língua torta.
E , agora, acho que tenho feito todas as coisas que vocês fizeram.
Algumas vezes, essas coisas são tão duras!

Então, eu agradeço a vocês?
Então, eu amaldiçoo vocês?

Estes rastros se estendem diante de mim.
Os únicos que vocês deixaram atrás.
O que eu quero, o que eu sinto, são seus, não meus.
Mãe, pai, todas aquelas batalhas que temos tido e
os longos, longos silencios no intervalo; por favor,
não digam que tudo isso foi em vão.
Algumas vezes, essas coisas são tão duras!

Nós nos alinhamos no casamento
Em fila de profundos olhos obstinados
Em nossos mais finos formais vestidos,
sim, e próprios ternos e gravatas
como uma família de monstros
numa real má dissimulação
Então, eu agradeço a vocês?
Então, eu amaldiçoo vocês? (Justin Sullivan)

11 comentários:

  1. Família realmente é uma coisa que tem me chateado bastante. Não penso como eles. Não faço mais parte de nada de bom que rola por lá, mas sempre que surge um problema, eles lembram que existo. E todas as vezes me faço a mesma pergunta: - Se me expulsaram do barco, porque lembram de mim quando o casco fura?

    Enfim... melhor não pensar muito no assunto.

    Beijocas

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  2. Sartre , o grande pensador exitencialista, falando sobre Marx, dizia que o homem é um produto do meio, ou seja, o homem não nasce pronto, mas nasce com liberdade de escolhas. São as escolhas que diferenciam o homem. Somos produtos do meio, mas podemos fazer escolhas, e mudarmos nossa história, assim como muitos mudaram a História. Muito legal seu pensamento, seu texto revela uma análise de comportamentos e costumes já arraigados e aceitos como verdade e que é importante acordar para isso. É uma reflexão que se aplica ao homem, não a uma determinada época ou sociedade.

    Parabéns pelo post!

    beijos!

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  3. Seja bem-vinda, Ligéia!!!

    Muito sensato o seu comentário.
    Muito obrigado pelo elogio.
    Apareça sempre, querida!
    Beijos

    Mas, Dama, nem só é a lei da família, é a lei da vida: procurar-nos na hora da necessidade.

    Beijos

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  4. Roderick!!!!!
    Vc voltou!!!! Ebaaaaaaaa!!!!!
    Ai, que bom que o Blogger resolveu tudo e vc mudou de ideia e não acabou com o blog.
    Vou te linkar de volta ao meu!!!
    Beijos mil!

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  5. Família, minha família também não é um modelo digno de comercial de margarina, temos nossos complexos, venturas e inumeras desventuras... Sei que sou fruto disso tudo, um espelho onde eles se vêm refletidos e nem sempre gostam... Essa reflexão que vc fez é bem verdade, filhos são moldados pelos pais, avós... e tantas outros fios que o colar de contas fica imenso e é engraçado com as vezes os pais são tão pouco orgulhosos de suas obras, tantas vezes trabalham laboriosamente em sua obra e se chocam quando vem diante de si, lembrei de Frankstein que trabalha tanto para criar um ser vivo que quando o tem pronto diante de si se choca e deixa sua criação ao relento para sofrer os dessabores da vida e penar.... As vezes os pais fazem isso com os filhos, não conseguem se reconhecer em sua criação, não prestam atenção ao que estão fazendo e sem capacidade de encarar as consequencias de seus atos, amaldiçoam suas criações e as abandonam a própria sorte!!!

    Aff... E que reflexão morbida foi essa que eu fiz ein?!?! kkk...

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  6. Reflexão pertinente! Uma das características dos nossos pais, é que os mesmos não erram, os filhos é que erram, que são rebeldes, injustos.

    Você observou muito bem, Pandora.

    Grato.

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  7. Só mesmo quem tem filhos para saber o que é criá-los num mundo cheio de Franksteins. A verdade é que as famílas criam seus monstros e depois se assustam porque sua criatura dá trabalho à sociedade e volta-se contra elas também. Os fransksteins também fazem suas escolhas.

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  8. Ligéria foi, na minha opinião, perfeita em sua analise e nos resta desejar que os franskstens façam boas escolhas!!!

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  9. Muito obrigada, Pandora, mas o mérito é seu também, pela feliz analogia, e também deste cavalheiro, Roderick Verden, por nos proporcionar esta saudável discussão.

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