A vida seria um erro, se não existisse a música(Nietzsche). A vida é um erro, mas a música atenua este erro(O Caveira)

Isso, abaixo, seria a vida após a morte?

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Diógenes de Sínope


No final da infância ou começo da adolescência, eu tinha o costume de ler enciclopédias. Gostava em especial de mitologias e filosofias. Na época, o filósofo que mais me chamou a atenção foi Diógenes de Sínope. Ele vivia como um mendigo, morava num barril, tinha apenas um manto e uma cuia. Conta-se que quando Diógenes viu um menino tomando água com a mão, jogou a cuia fora. A felicidade , no seu ponto de vista, está em viver assim, despojado de bens materiais, avesso às convenções, à parte da sociedade.

Díogenes era tido como precursor do anarquismo; um cínico!  Saia com sua lanterna, em plena luz do dia, procurando um homem honesto.  Alexandre, O Grande, lhe perguntou:  "O que posso fazer por você?". Diógenes respondeu: "Sair da minha frente, pois está entre o sol e eu". Alexandre afirmou que se não fosse Alexandre Magno, gostaria de ser Diógenes. A atitude de Alexandre, querendo ajudar alguém que, na verdade, não necessitava de ajuda, me faz lembrar uma ex-colega de serviço, que sentiu pena de mim por eu estar sempre sozinho.  Seria mais plausível ter dó de mim quando estou na multidão.

Realmente, me identifiquei com o filósofo. O jovenzinho Roderick Verden já era um anarquista, um anticonvencional, um grande antisocial, um ser atípico.  Já residia em mim um desprezo enorme pela nossa hipócrita e vulgar sociedade. Claro que quiseram mudar o meu jeito: meus pais, parentes, amigos, ou melhor, colegas, escola, igreja... Até psicanalistas foram contratados para me endireitar... Nem as namoradas mudavam meu jeito.  Surpreendentemente,o eterno celibatário se casa aos 31 anos. Felizmente, ela também não queria filhos. O casamento, vivendo sob o mesmo tempo, durou uns três anos. Voltamos com uns tantos de volta e separa, mas sem viver na mesma casa, só no final de semana que nos viámos, ora na casa de um ora na de outro- mesmo assim não deu certo.rs.
Claro que não podia dar certo, afinal sou  partidário de ´Diógenes de Sínope.

E hoje me conheço melhor.  Há um ano e meio que moro sozinho. O egoísta aqui não tem com quem se preocupar a não ser consigo mesmo.  Mas, paga-se um preço por ser anticonvencional, paga-se um preço por ser uma pessoa atípica e antisocial. Eu, um proletário, tenho uma pequena renda. É com ela que me mantenho.  Essa grana durará ... uns dois anos.  Estou desempregado há anos. Não pretendo mais trabalhar. Cansei de trabalhar em firmas medíocres, percebendo um parco salário, sendo alvo de uma série de aborrecimentos, etc.  Posso até ser medíocre, mas não tolero trabalhar em empresas medíocres. E a mediocridade, não está somente no porte das firmas, já trabalhei em multinacionais- foi terrível!
O que será de mim, então? Quais opções que tenho:
1) Viver de favor na casa de outrem.
2) Morar numa espécie de azilo.
3) Me tornar um mendigo
4) Morrer

1) Jamais me adaptaria em morar na casa dos outros, muito menos ser gigolô. Detesto exploração. Gosto de liberdade.
2) Terrível morar num asilo, cercado por colegas malucos, caducos, chatos e médicos e enfermeiros. Gosto de silêncio.
3) Bem, apesar da minha admiração pelo Diógenes, eu , de forma alguma, me sentiria bem como um mendigo. Gosto de tomar banho.
Morar e dormir na rua é fria. E fazer o que o dia inteiro? Mendigo não usa computador, não escuta discos...
4) Sem dúvida, a melhor opção seria morrer. Espero que o destino não me mande alguma doença que me faça ficar incapacitado, a depender dos outros.  Não sei bem se eu teria coragem de me matar, mas se a Dona Morte quiser aparecer,, será bem vinda. Porém te peço, Dona Morte, tenha pena de mim; seja branda e rápida.

E é assim como me sinto, como estou, como se fosse um doente terminal, a espera do corte final... uma vida prestes a se extinguir.




Diógenes de Sínope (413 - 323 a.C.)



Diógenes foi aluno de Antístenes, fundador da escola cínica. Em sua época Diógenes foi destaque e símbolo do cinismo pois tornou sua filosofia uma forma de viver radical. Diógenes expressava seu pensamento através da frase "procuro um homem". Conforme relatos históricos ele andava durante o dia em meio às pessoas com uma lanterna acessa pronunciando ironicamente a frase. Buscava um homem que vivesse segundo a sua essência. Procurava um homem que vivesse sua vida superando as exterioridades exigidas pelas convenções sociais como comportamento, dinheiro, luxo ou conforto. Ele buscava um homem que tivesse encontrado a sua verdadeira natureza, que vivesse conforme ela e que fosse feliz.



Para ele os deuses deram aos homens formas para viverem de modo fácil e feliz, mas esses mesmos deuses esconderam essas formas dos homens. Diógenes buscava descobrir esses modos de viver tentando demonstrar que as pessoas tem a seu dispor tudo aquilo que realmente precisam para ser feliz. Mas para isso as pessoas tem que conhecer a sua natureza e as verdadeiras exigências que essa lhe faz. Pensando nisso ele afirma que a música, a física, a matemática, a astronomia e a metafísica são inúteis pois são formuladoras de conceitos, muito além dos conceitos o que importa é a ação, o comportamento e o exemplo. Nossas reais necessidades são para ele aquelas que nos impõe a nossa condição animal, como nos alimentar por exemplo. O animal também não tem objetivos para viver, ele não tem que responder pelos seus atos para a sociedade, ele não precisa de casa ou conforto. É nas necessidades básicas dos animais que o homem deve se espelhar para conduzir sua vida.



Diógenes pôs em pratica seus pensamentos e passou a viver perambulando pelas ruas na mais completa miséria tomando por moradia um barril o que se tornou um ícone do quão pouco os homens precisam para viver. Alimentava-se do que conseguia recolher em sua cuia. Tinha por proteção um manto que usava para dormir e usava os espaços públicos para fazer tudo mais que precisava. Segundo ele esse modo de viver o deixava livre para ser ele mesmo pois eliminava a necessidade de coisas supérfluas. Ele acreditava atingir essa liberdade cansando o corpo para se habituar a dominar os prazeres até desprezá-los por completo pois para os cínicos os prazeres enfraquecem o corpo e a alma, pondo em perigo a liberdade do homem pois o torna escravo dos mesmos.



Os cínicos contestavam ainda o matrimônio e a convivência em sociedade. Eles se declaravam cidadãos do mundo. Acreditavam que o homem deve ser autônomo e auto-suficiente tratando o mundo com indiferença pois a felicidade deve vir de dentro do homem e não do seu exterior.



Outro fato conhecido de Diógenes é seu encontro com Alexandre, então o homem mais poderoso conhecido. Alexandre solicitou que Diógenes pedisse o que quisesse e este pediu que Alexandre saísse de sua frente pois estava tapando o sol. Diógenes estava com esse ato demonstrando o quão pouco ele necessitava para viver bem conforme sua natureza.







Sentenças:



- Busco um homem honesto.



- Elogiar a si mesmo desagrada a todos.



- O amor é uma ocupação de quem não tem o que fazer.



- O insulto ofende a quem o faz e não a quem o recebe.



- A sabedoria serve para reprimir os jovens, para consolar os velhos, para enriquecer os pobres e para enfeitar os ricos.



- A liberdade para falar é a coisa mais bela para um homem.



- Um filósofo só serve para machucar os sentimentos de alguém.



- O tempo é o espelho da eternidade.



- Sou uma criatura do mundo.

2 comentários:

  1. Olá Roderick, penso eu que, como vc existem muitas pessoas que sentem-se como um peixe fora d´agua neste mundo hipócrita. Eu mesma, já indaguei-me por que sou obrigada a conviver com pessoas tão primitivas espiritualmente ... mas penso nesta hora que preciso muito da generosidade de meus superiores, ao olhar minhas imperfeições e darem-se como exemplos de vida, mesmo misturados ao todo! Beijo

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  2. Oi Lua. Seja bem-vinda! Vc usou o termo certo: peixe fora d'água. Gostei da sua mensagem. Mas, o q vou dizer pode ser ignorância, arrogância, loucura: custo a acreditar q, hoje, vivendo só, estou livre de parentes(exceto minha mãe), trabalho, escola, colegas... sinto-me aliviado!

    Grato pelo comentário. Apareça sempre!
    Beijos

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