A vida seria um erro, se não existisse a música(Nietzsche). A vida é um erro, mas a música atenua este erro(O Caveira)

Isso, abaixo, seria a vida após a morte?

segunda-feira, 2 de maio de 2011

O Assustador Roger Waters



 Qual mulher que consegue resistir ao meu charme?

E em 1973 o Pink Floyd grava "The Dark Side of The Moon", que bate recorde de vendas. Pela primeira vez é creditado a Roger Waters a autoria de todas as letras. Á partir desse álbum é que o famoso grupo inglês se torna triste. Nas letras de Waters já não havia mais objetividade, nada mais de falar da natureza, de coisas sem nexo, de psicodelismo, romantismo... nada disso. Daquela época em diante, só crise, críticas, inquietação, revolta. Waters era o protótipo do homem brigado com o mundo.
O aclamado disco do prisma fala sobre velhice, morte, a insensatez da guerra, loucura, critica ao capitalismo.
O baixista escreve três músicas sozinho. Uma vez, vi um documentário, numa tv a cabo, no qual escutei a demo de "Money", só com o vocal de Waters e um violão; a canção era meio blues. Waters, que eu saiba, nunca a cantou ao vivo. Inclusive , ele é muito criticado por isso, havendo quem o considere um péssimo vocalista, o que não concordo mesmo! Em "Brain Damage", ao falar de loucura, nota-se uma alusão ao ex-companheiro Syd Barrett. Escreveu a instrumental "On The Run" de parceria com David Gilmour. Essa música foi escrita originalmente por Gilmour, que dedilhava sua guitarra... Ela foi apresentanda ao vivo, com grande destaque para o piano elétrico de Wright.  Waters adaptou ela num sintetizador VCS3. Gilmour, sorrindo, disse que ficou puto por Waters ter feito um trabalho melhor que o dele.rs
Nova parceria entre Waters e Wright: "Us and Them". O que poderia resultar, um melancólico(Wright), outro triste e inconformado(Waters) de uma parceria assim? Belíssima canção , e uma das mais tristes do repertório do Floyd.

"Wish You Were Here"(1975) é o disco seguinte. Na longa e linda suite "Shine On You Crazy Diamond", Waters homenageia tristemente Syd Barrett. Na faixa título, composta de parceria com David Gilmour, há uma controvérsia, pois uns dizem que é mais uma homenagem a Barrett, outros falam que Waters fez a letra para o seu pai... Waters detona o show business. "Have a Cigar" e "Welcome to The Machine" são creditadas ao baixista. Ambas progressivas, com arranjos bem elaborados.

No "Animals"(!977), Waters compara os seres humanos com os animais. Wright não aparece como compositor, e somente uma faixa, "Dogs" é que não foi  composta pelo baixista(a faixa foi mais uma parceria com Gilmour). Desta vez, Waters se destacou bem mais que seus companheiros, até mesmo na parte vocal, já que canta todas as músicas; apenas em "Dogs" é que escutamos o vocal de Gilmour.
"Sheeps" e "Pigs" são músicas pesadas, com muita variação, um instrumental rico e são longas. E fica uma pergunta no ar: será que Waters arranjou tais músicas sozinho?

E no final de 1979, o Floyd termina de gravar o álbum duplo "The Wall". Apesar da boa ajuda de Gilmour, pode-se dizer que é um disco solo de Waters, que, na minha humilde opinião, chegou ao ápice como compositor. Um disco auto-biográfico de Waters, de cunho existencial, amargo, critico, inconformado, mas com um final esperançoso, depois que o muro é derrubado. O disco conta a saga de Pink, que perdeu seu pai na guerra, quando ele estava no berço. O pai deixou apenas uma foto num álbum. Waters grita: "Papai, o que mais você deixou pra mim???  Apenas mais um tijolo na parede".
os professores também levam a deles:  "Nós não precisamos de educação, não precisamos de controle de pensamento. PROFESSORES, DEIXEM OS ALUNOS EM PAZ!"
Ninguém escapa da fúria de Waters, que detona o casamento em "One of my Turns": "noite após noite, nós fingimos que está tudo bem, mas eu envelheci e você ficou mais fria".
Provavelmente "Mother" é a música mais amarga que alguém já compôs com referência à nossas mães.
O grau de dependência, de desamparo, é estarrecedor! As palavras ferinas que Waters profere a respeito de nossas mães, é impressionante mesmo! Como disse um conhecido meu: 'eu não gostaria de ser mãe, de modo algum!'rs. "Filho, fique quietinho agora, não chore
Mamãe irá fazer todos os seus pesadelos virarem verdade
Mamãe ira colocar todos os medos dela em você
Mamãe vai manter você bem debaixo da asa dela

Ela não lhe deixa voar, mas talvez lhe deixará cantar
Mamãe lhe deixará aconchegado e aquecido..."
..." Você sempre será uma criança pra mim".
Mais sarcástico e cínico impossível! rs

No final, testemunhamos o julgamento, na ópera(?!) "Trial", parceria de Waters com o produtor Bob Ezrin. Pink é acusado, entre outras coisas, de ter sentimentos (quase) humanos. Questiona que depois de tanto sofrimento, a culpa poderia ter sido só dele, exclusivamente dele. A figura do juíz é patética. Creio que Waters quis mostrar o ridículo do poder judiciário, o circo que é um julgamento.
O poderoso juíz disse a surrada frase: 'em todos esses anos de jurisdição, jamais vi um caso como esse... sinto vontade de defecar". E a sentença é a derrubada da parede.
E tudo termina calmamente, com "Outside the Wall", parecendo haver uma luz no fim do túnel.

Três anos depois, era lançado "The Final Cut". O Pink Floyd havia se tornado um trio- o tecladista Richard Wright não fazia mais parte da banda. Sempre houve divergências entre Waters e Wright, e durante a gravação do "The Wall" a coisa chegou a um ponto que o saudoso tecladista teve que sair do grupo.
Roger Waters: "Eu estava sofrendo muita pressão da gravadora para soltar o mais rápido possível o "The Wall", então, pedi que Wright escrevesse alguma coisa, mas ele não me atendeu. Falaram muito coisa a meu respeito... que eu mandei Wright embora... não quero mais comentar sobre isso!"
Richard Wright: "Na época do "The Wall, Waters estava com o ego nas alturas, se achando que era só ele o Pink Floyd; tivemos brigas terríveis, e ele acabou dizendo: 'não quero mais Rick Wright na banda!'."

Penso que até antes do "The Wall", Waters não tinha um estilo definido de compor, o que eu achava até interessante, pois em cada composições suas, havia uma surpresa. No entanto, no "The Wall", ele passa a ter um estilo próprio; começa cantando em tom baixo, suave, com a voz mais grave e, de repente, passa a gritar. Virou uma idéia fixa os efeitos de estúdio: latidos de cachorro, criança chorando, diálogos, explosões..., o coro feminino e o saxofone se tornaram uma constante. Waters continuou só a reclamar, a criticar, a xingar. Saudades dos bons tempos de "Saint Tropez", "The Nile Song", "Julia Dream", "Embryo"...

No "The Final Cut", as canções são do estilo das que escutamos no "The Wall", só que sem a mesma qualidade. Não é um disco ruim, mas poderia ser melhor.  A bateria em "Two Suns in The Sunset" não é tocada por Nick Mason. David Gilmour está apagado, não participa de algumas músicas.
Quem acabou por se destacar no instrumental, foi, justamente, Michael Kamen, maestro e pianista(ela não era integrante oficial do Floyd). Algumas canções são bem trabalhadas, boas, mas noutras, falta algo, elas não se desenvolvem, se perdem no ar, parecendo incompletas, exemplos: "The Post War Dream", "The Hero's Return", "Southampton Dock", e as musiquinhas de 1 minuto de duração também encheram o saco.
Quanto ás letras, são ótimas! Waters dedica o disco a seu pai, Eric Fletcher, morto na Segunda Guerra Mundial, com apenas 31 anos.

"Diga-me a verdade, por que Jesus foi crucificado? Foi por isso que meu pai morreu? Foi por mim? Foi por você? Tenho assistido TV em demasia?" ... "Há uma acusação em seus olhos?"
... Com todas as crianças cometendo suicídio..."
O que nós temos feito Maggie(Margaret Tatcher)? O que temos feito pela Inglaterra?
Deveríamos gritar, berrar? O que aconteceu com o sonho pós-guerra?"

Em "The Fletcher Memorial Home", uma canção, como de costume, triste e amarga, num estilo que me lembra ópera, Waters faz uma ótima sugestão: O Memorial Fletcher, uma espécie de asilo/manicômio para políticos tiranos...rs. INCRÍVEL!

O Lar Memorial Fletcher

Leve todas as suas crianças enormes para algum lugar
E construa para eles uma casa, um pequeno lugar deles.
O Memorial Fletcher
Para Tiranos e Reis Incuraveis.

E eles podem aparecer diariamente a eles mesmos
Em um circuito fechado de T.V.
Pra ter certeza de que ainda são reais.
É a única conexão que eles sentem.
" Senhoras e senhores, por favor recebam Reagan e Haig,
Sr. Begin e amigo, Sra. Thatcher, e Paisly,
"Olá Maggie!"
Sr. Brezhnev e camaradas.
"Quem é o individuo careca?"
O fantasma de McCarthy,
As memórias de Nixon.
"Adeus!"
E agora, para adicionar cor, carne de um grupo de latino-
americanos anônimos empacotados em glitterati."

Será que eles esperam que a gente os trate com algum respeito?
Eles podem polir as suas medalhas e afiar os seus
sorrisos, e se entreterem jogando jogos por algum tempo.
Boom boom,bang bang, deite você está morto.

Seguro no olhar permanente de um olho num copo frio
Com os seus brinquedos favoritos
Eles serão bons garotas e garotos
No Memorial Fletcher Para Gastadores
de Vida e Limites.

Todo o mundo está aqui?
Vocês estão tendo um tempo agradável?
Agora a solução final pode ser aplicada"


continua...





Nenhum comentário:

Postar um comentário

Todos os comentários serão respondidos.