A vida seria um erro, se não existisse a música(Nietzsche). A vida é um erro, mas a música atenua este erro(O Caveira)

Isso, abaixo, seria a vida após a morte?

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Estupidez



Em 2005 li um artigo interessantíssimo escrito por um advogado, num jornal de Belo Horizonte. Aliás, o texto foi publicado em outro jornal.  O advogado escrevia com frequência artigos para o jornal belorizontino, sempre exibindo uma vasta cultura, demonstrando se preocupar com os problemas de nossa nação. Tinha um amplo domínio da língua portuguesa. No entanto, exibia também pedantismo. Seu palavreado estava bem longe da simplicidade. Algumas vezes, eu era obrigado a consultar o dicionário para saber o significado de certas palavras. Ele igualmente era muito sério, parecendo ser bem conservador. Todavia, o artigo, "Estupidez", de autoria do nobre advogado, me surpreendeu.  Mal comecei a ler o texto e percebi que geraria polêmica.  Alguns leitores ficaram indignados com a postura do advogado.  O desdém que o advogado tem por tatuagem, é tamanho, que beira à pilhéria. Observem o modo eloquente que ele cai de pau nos que curtem tatuagem.  Mas, o mais engraçado de tudo, foi a resposta de um leitor, num artigo. O leitor foi irônico, e eu e um outro leitor, não captamos sua ironia. Pra mim, ele era um conservador bem humorado. Já o outro leitor, o comparou a Hitler(rs). E, encerrando a polêmica, outro leitor nos criticou por não termos entendido a estupenda ironia. Eu me retratei e teci loas ao genial articulista irônico.

Quanto à minha opinião sobre tatuagem, não gosto. Acho uma bobagem. Porém, já fiz muita bobagem quando adolescente. Já segui moda. Hoje, penso que moda é uma bobagem. Mas tem gente que gosta...


                                                                Estupidez

Não há, em nosso inesgotável vernáculo, adjetivação mais apropriada para aqueles que resolvem exibir no corpo desenhos de toda a sorte, às vezes intricados, gravações na carne que nada traduzem senão uma infeliz criação de momento. De qualquer forma uma manifestação sempre ''brega'' de seus prosélitos.
Arriscando-se com tais intervenções a provocar infecção grave, até fatal, reação certamente mais considerável do que a repulsão social, homens e mulheres entregam seus membros, até seu corpo todo, a esta nova investida da estupidez humana.
Não há razão determinada para esta prática. Não se viu, ainda, diagnóstico psicanalítico, psiquiátrico ou psicológico que se aplique aos autores - ou vítimas? - desse lamentável distúrbio das faculdades mentais que, sabe-se lá, se propõem à procura de algo que nem sabem.
Depoimentos há que demonstram o desejo de uma composição simples, depois outra mais, até que a pobre criatura, sem alguém para adverti-la, deixa-se cobrir por um cipoal de linhas e curvas que terminam por assemelhá-la mais a um monstro pré-diluviano, temível, repugnante, enfim, um adversário da natureza humana.
Há, por certo, os mais comedidos, que se arriscam a tais operações (melhor dizer autoflagelo) com o propósito de persuadir-se, ou a terceiros, de que a concretização do desejo virá adorná-los, embelezá-los ou fazê-los mais atraentes ao nosso olhar.
Nada disso acontece. Primeiro, porque, não constituindo a prática uma unanimidade, senão uma aberração, por isso um ato excepcional, dia haverá em que ninguém mais se arriscará a repetir o ridículo. Em seguida, pelo caráter de perpetuidade da incisão, muitos se contentam com uma primeira experiência.
A sociedade, que, na verdade, repele este assalto à estética, é hipócrita, limitando-se a informar e exibir essa onda, explorando-a com sensacionalismo, quando deveria emitir um juízo de valor sobre esta estupidez que se infiltra principalmente no meio juvenil, que é o alvo mais fácil dessa fantasia que, às custas dos meios de comunicação, está atiçando até adultos a uma aventura de falsa estesia, de mentira.
A opinião pública, se ouvida, podia ser honesta e por isso misericordiosa com os aficcionados dessa prática, não os iludindo quanto ao asco, a aversão mesmo, que os tatuados causam a todos aqueles que não se permitiram juntar-se a esse ainda pequeno clube.
A humanidade é assim, caminha ao sabor de seus impulsos. Então, como tudo que contraria a humana natureza nunca se reconhecerá mais que meras tentativas ou impulsos vãos, a própria natureza irá cobrar tudo que possa representar-lhe um desafio, pois que tudo aquilo que se pretenda incorporar aos nossos caracteres naturais nada mais é que arte de picadeiro.
Estejamos certos de que se faltasse algo à figura do homem, Deus não teria poupado do que fosse mais belo ou encantador, merecendo a criatura, como sempre mereceu, a extrema generosidade de seu criador.
Essa prova não é transcendental. É a lógica que nos guiará pela vida. Ou os simpatizantes da tatuagem se encaixam na definição de Napoleão: os homens são sempre contra a razão quando a razão é contra eles.

4 comentários:

  1. rsrs Adorei, muito bom seu post e o artigo do advogado!
    Eu, mesmo tendo uma tatuagenzinha na espádua esquerda, apreciei demais o artigo! rsrs
    Teria eu um distúrbio ao fazer a minha tattoo? rs o.O

    Muitas pessoas vão na onda do oba-oba, e aí sim, acabam arrependendo-se, mais tarde daquele horripilante desenho o qual adornou seu corpo anteriormente...outros, por não ter o respaldo necessário do próprio tatuador, acabam desenhando em seu corpo em um verdadeiro carniceiro...rsrs aí danou-se..."la mierda" está feita..rs.Já outros, o que é pior, tatuam demônios, monstros, parceiros amorosos e mais tarde, quando suas crenças mudam ou suas parceiras mudam ou eles próprios mudam suas medíocres mentes; arrependem-se..aí, danou-se novamente! rssr

    A tatuagem originou-se das tribos antigas! Os índios africanos tatuavam seus corpos a cada batalha ganha! Tatuagens em alto relevo, o que é assaz dolorosa e envolta em honrarias!

    Hoje, além da vaidade, outros gostos pragmáticos ou não; enchem-se de ilusões, de desarmonia, ou, aqueles que estão certos do que querem de harmonia de acordo com seus gostos!

    Tatuagem é válida, desde que saibam o que estejam sabendo, desde que consigam bancar-se com relação à pré-conceitos e outros "x´s" das questões..

    Grande abraço meu amigo e ótimo restante de dia pra você!

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  2. É, Anjo, vc é uma pessoa bem esclarecida. Na minha adolescência, era moda calças pantalona e roupas bem coloridas, cabelos grandes. Quase todos os adultos nos criticavam, sendo q alguns nos chamavam de 'mulher', 'menina'(rs). O tempo foi passando e eu cada vez mais afastado da moda e criticando os q eram adeptos. Questão de geração, de fase...

    Agora, não sou radical como o tal advogado. Eu já até imagino a cara de desdém q ele faz, ao se deparar com um tatuado(rs). O artigo dele, a meu ver, é engraçado sim!

    E vc leu o Estupidez 2, no link q postei? Achei bem mais engraçado q o artigo do advogado. Fina ironia!

    Muito obrigado, Anjo, pelo seu sábio comentário.
    Um ótimo final de dia pra ti tb!

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  3. Querido Roderick, minha opinião sobre tatuagem é um pouco parecida com a desse advogado, não vou mentir, já gostei de algumas tatuagens e ainda gosto as vezes, mas sinto que é algo totalmente dispensavel, não tem sentido ficar se pintando!
    Vou ler a parte 2 e adorei esse post! Excelente recomendação!
    Beijos

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